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Entrevista TV Cultura

Sua letra é bonita ou ilegível?

25/08/10

Por Mônica Vitória

Você se lembra dos seus tempos de alfabetização? A professora do Primário tinha toda a paciência do mundo para ensinar como era desenhada cada vogal e cada consoante. Você passava horas na sala de aula tentando imitar a voltinha do Q, a cedilha do C, o laço do F minúsculo, que nem sempre saíam tão bem, mas eram treinados exaustivamente. Hoje, você já sabe escrever, porém, talvez não empregue tanto afinco para que outros possam ler seu texto. Se você é daqueles que acham que ter letra bonita não é necessário, saiba que, na escrita, não é só o conteúdo que tem valor – a forma também importa.

Cláudio Pimenta, professor de Língua Portuguesa e Literatura do C. E. Professor Antônio Maria Teixeira Filho, no Leblon, tem mais de 20 anos de magistério e garante: a caligrafia dos alunos tem piorado muito ao longo dos anos. “A cada dia eles escrevem menos, principalmente porque hoje passam mais tempo digitando no computador. Por isso, quando precisam escrever algo a lápis ou a caneta, apresentam uma dificuldade imensa. Tem aluno que parece até médico rabiscando”, conta o professor, acrescentando que são as meninas que ainda têm maior capricho com a letra, enquanto os meninos costumam ser mais descuidados.

Quer um exemplo? Victor Hugo Tavares, aluno do CIEP 241 - Nação Mangueirense, é um desses que dão trabalho para quem corrige suas provas e redações. “Minha letra é feia. Tem gente que entende, tem gente que não. Uma vez já me mandaram refazer um trabalho porque a letra não ajudou muito. Mas, às vezes, acho que alguns professores me dão pontos justamente por não entenderem!”, diz. Quando era mais novo, segundo ele, a grafia era ainda pior: “Hoje ouço poucas críticas dos professores, mas já aconteceu. Os colegas da classe reclamam mais”.

Victor até que deu sorte. Tem professor que chega a baixar a nota da prova se a grafia estiver incompreensível. “Acho que tirar ponto é castigar. Eu prefiro marcar o trecho que não consegui ler e, depois, perguntar para o aluno o que ele quis dizer. Mas nem todo mundo tem paciência e tempo para decifrar garranchos. Por isso, mais tarde, a letra ilegível pode prejudicar o aluno no vestibular, no trabalho, ao preencher fichas etc.”, afirma Cláudio Pimenta. Para ele, o importante não é ter uma caligrafia necessariamente bonita, mas, pelo menos, legível. “A gente escreve é para a outra pessoa ler. Se fizermos isso sem cuidado, ninguém vai querer entender o que redigimos”, completa.

Seria a preguiça a culpada dos garranchos? Tsc tsc tsc. Como disse o professor de Português, é pura falta de costume mesmo, e Victor se justifica: “Digito bastante, então, textos manuscritos são raros. Isso não ajuda muito a melhorar a letra. Eu já tentei, mas por passar tempo demais no computador, dá até para esquecer como se escreve à mão”, garante o aluno. E não pense que só os estudantes, nativos digitais, sofrem do “distúrbio da letra feia”. “Eu também não tenho letra bonita, por culpa da minha outra profissão. Mas me faço entender, pois preciso passar o conteúdo aos alunos”, confessa Cláudio, que antes de ser professor era jornalista e precisava anotar informações rapidamente enquanto apurava as notícias.

Fazendo da caligrafia uma arte

O engenheiro Dercy Guaitoli também tinha uma letra ruim e, incomodado com isso, decidiu criar um método para resolver o problema, a Ergonomografia. “O ato de escrever é um trabalho, e, como tudo que fazemos, tem que ser aprendido. Todas as pessoas podem, com um pouco de disciplina, melhorar a sua caligrafia. Pensar em melhorar já é meio caminho andado”, argumenta. Dercy chama a atenção para o fato de que, até o advento da imprensa, foram os registros manuscritos os responsáveis pelo desenvolvimento da humanidade. “Na realidade, sabemos escrever cada vez menos. Precisamos, sim, continuar exercitando a nossa capacidade de escrever usando o lápis e o papel”.

Rosângela Dornelas trabalha há dez anos com caligrafia artística, coordenando uma empresa que oferece produtos e serviços relacionados à arte de escrever à mão, como confecção de convites de casamento, diplomas e livros de presença. Segundo ela, hoje, apesar do advento das tecnologias digitais e da internet, ainda é essencial cultivar o hábito e desenvolver uma grafia bonita. “É uma questão de apresentação. Quando você vai preencher uma ficha ou fazer um texto para uma seleção de emprego, por exemplo, a letra feia ou ilegível, além de dificultar o entendimento, denota falta de capricho e causa má impressão”, ressalta.

Se as pessoas reclamam da sua letra e você tem vontade de melhorá-la, não desanime. Comece já a treinar! Anote matérias no caderno, faça redações e resumos à mão, use bilhetes, escreva uma carta para alguém que ama, em vez de só mandar mensagens pelo computador. A experiência de segurar o papel e ver a expressão do outro em sua forma de escrever não tem comparação! “Uma boa dica para melhorar a letra é trabalhar na pauta (naquela folha com muitas linhas de espaços irregulares). Vale a pena comprar um caderno de caligrafia ou até fazer as linhas no computador e imprimir para depois exercitar com o lápis”, recomenda Rosângela.

Dercy acrescenta outro ponto: “Para ter uma letra boa é preciso uma boa coordenação motora, saber desenhar símbolos universalmente legíveis e com boa plástica. Melhorar a letra melhora a auto-estima, nos torna mais confiante”. Para conhecer o método criado pelo engenheiro, acesse o site http://www.caligrafiagratis.com.br e confira gratuitamente as técnicas e exercícios que ele disponibiliza.

Outras dicas:

- Ao escrever, procure se concentrar no papel. Mantenha uma postura ereta e sente-se bem apoiado na cadeira, ficando bem próximo à mesa.

- Procure um lugar com boa iluminação e, de preferência, em superfície totalmente plana.

- Se você não tem o hábito, escrever à mão todos os dias por, pelo menos, 15 minutos, já é o suficiente para exercitar.

- Tome cuidado com as proporções e a separação entre letras e palavras. Fique atento!

- Nunca se esqueça dos detalhes: pontuação, pingos no I e no J minúsculos, o corte da letra T, a cedilha etc.

- Ao errar ou deixar uma letra mais “feia”, não corrija. Escreva a palavra toda novamente.

- Somente com treino é possível melhorar sua letra.

Fonte

ACESSE: http://www.conexaoaluno.rj.gov.br/